O surf e a alegria da calma por Gilles Deleuze

Surfista pegando onda no por do sol

A relação dos surfistas com o mar é de um estado de alegria permanente. Mesmo quando eles esperam a onda perfeita, esperam para esperar menos. Eles chegam em seus carros na praia, de repente a algazarra termina, e forma-se um silêncio entre eles (estão num estado de uma alegria permanente, mas não se diz nada, é a alegria da calma), então, olham o mar tal como o descobridor olhou a terra, saem correndo e lançam-se ao mar, num maravilhoso ritual de alegria permanente.

Gilles Deleuze professor universidades importantes como a Sourbone

Gilles Deleuze nasceu em Paris em 18 de janeiro de 1925. Formou-se em Filosofia na Universidade de Paris I (Sorbonne), em 1948.

É preciso observar os surfistas para além da caricatura e da estética do belo. Atrás de tudo isso tem uma grande filosofia interessantíssima. Filosofia que levou o filósofo Gilles Deleuze no final de sua vida a se interessar muito pelos surfistas e a manter contato com eles, a tal ponto que levou ele a dizer: ‘Essa alegria dos surfistas diz algo para a filosofia, eu acho que a filosofia está concernida pelo Surf’.

E então Deleuze começa a trabalhar toda a teoria das dobras (Leibniz) e a relação da física quântica com o corpo dos surfistas e infelizmente este encontro foi muito curto porque foi no final de sua vida.

Mas ele ficou numa situação de tanta alegria na sua doença ao encontrar os surfistas que chegou, seis meses antes de morrer, a aceitar um convite deles para participar de uma grande festa dos surfistas na Europa chamada A Noite do Escorrego o que levou Deleuze a dizer: “Contaminado por uma alegria que não posso dizer o nome. Cheira à vida. Me senti muito feliz com essa multidão de jovens mas ao mesmo tempo fui tocado por uma angústia de não poder ser tão feliz como eles”.

Olhando de outro angulo 

Deleuze já estava doente, e aí quando ele sentiu essa experiência da força vibratória da Alegria do Surf, sentiu que realmente sua angústia anunciava talvez algo que não pudesse mais tocar. E aí Deleuze vai neste momento falar sobre o envelhecimento e a morte – que é uma de suas mais belas páginas. Ele começa falando da alegria, do encontro com os surfistas e da vida, e o que vai tocá-lo? Uma angústia. Então ele começa a falar da morte e da doença como uma grande saúde, tal como Nietzsche, dando à morte e à doença, o seu espaço de alegria. O filósofo que consegue falar da doença sem dar a ela um status de autocomiseração, que é o caso de Nietzsche, cuja situação limite, de completa destruição moral, física, enfermo, fez ele, neste momento, escrever suas páginas mais belas sobre a grande saúde e a alegria.

Por: IFarias