Ex-surfista Jon Rose, usa Rali dos Sertões para projeto humanitário de acesso à água potável

Jon Rose é ex-surfista profissional e criador da Waves for Water

Jon Rose é ex-surfista profissional e criador da Waves for Water. Foto: Evelyn Guimarães

 

O já famoso Rali dos Sertões conhecido por suas ações extra corrida, nesse ano não está sendo diferente.  Além das grandes disputas acirradas entre os pilotos e marcas na pista, a passagem da prova por cidades do interior dos estados de Goiás e Tocantins vivem uma experiência diferente desta vez com o trabalho do ex-surfista profissional Jon Rose. A disputa do ex-surfista norte-americano é levar técnicas simples para facilitar o acesso à água própria para consumo.

Entregar água a toda e qualquer pessoa que precise. É essa a frase que move as ações de Jon Rose, ex-surfista e hoje um dos nomes mais importantes no trabalho de levar água potável a lugares carentes e em condições problemáticas de uso do recurso, ou ainda em zonas de conflitos e vítimas de catástrofes ao redor do mundo. Jon viaja o mundo levando soluções simples e práticas para que todos tenham acesso àquilo que é “um direito de todos”.

O pai de Rose, Jack, também faz parte de ações humanitárias na África, em trabalho com projetos ligados à educação. Mas a ficha de Jon, que rodou o planeta em cima de uma prancha por 13 anos no circuito profissional, só caiu mesmo na ilha de Sumatra, quando chegou a Padang, cidade que fora devastada por um terremoto de 7.6 de magnitude, em 2009. Mais de mil pessoas perderam a vida na tragédia, que deixou 100 mil desabrigados.

Os filtros são capazes de limpar e purificar qualquer água (Foto: Evelyn Guimarães)

Os filtros são capazes de limpar e purificar qualquer água (Foto: Evelyn Guimarães)

 

Foi aí que o norte-americano entrou na campanha para tornar água imprópria em potável, ajudando centenas de vítimas e feridos nos hospitais na Indonésia naquele ano. E ainda criou a ONG Waves for Water, como forma de expressar a vontade de fazer “algo pelo mundo, de transformá-lo naquilo que era antes”. Rose leva uma vida nômade, por conta das ações, quase não descansa e tem sempre um sorriso no rosto.

A partir dali, Rose começou um projeto que mudaria também a vida de milhares de pessoas ao redor do globo. O objetivo é levar água própria para o consumo com técnicas facilmente aplicáveis. Basta um balde e um kit com o filtro para que a população consiga obter água potável nas regiões mais necessitadas, onde os sistemas de saneamento não chegam ou são demasiadamente ruins ou até mesmo inexistente.

Na verdade, o surf também foi um pouco responsável pelo caminho tomando por Jon, já que sempre quis ajudar as populações ribeirinhas nos locais onde competia. “Eu competi por 13 anos e visitei lugares remotos, onde a população vivia muitas vezes em condições precárias. A intenção é levar uma solução simples as cidades que fomos quando estávamos surfando. E sempre pensei em como fazer, em como ajudar. Em fazer a minha parte”, disse Rose em entrevista ao site GRANDE PRÊMIO.

“Eu queria algo simples, de fácil uso e transporte, porque o kit cabe em uma mala, você pode viajar, levá-lo junto e doá-lo. Acho que a ONG se trata um pouco disso, de você fazer o que mais gosta, o que ama e ajudar as pessoas neste caminho. E o que queremos é algo global, atender o número máximo de possível pessoas e ao mesmo tempo. É chamar todos, qualquer pessoa pode ajudar, e é preciso motivo para começar a auxiliar quem precisa”, completou o ex-surfista.

Jon já visitou 20 países com essa ideia e desenvolve projetos permanentes em várias comunidades na África, doando os filtros e os baldes, além de ensinar como o equipamento funciona e estudar novas técnicas dependendo da demanda dos milhares de vilarejos.

O californiano já esteve diversas vezes no Brasil. Passou pela região amazônica e comunidades carentes em São Paulo e Santa Catarina. Em 2011, Jon foi para Teresópolis, no Rio de Janeiro, por conta dos desmoronamentos de terra causadas pelas fortes chuvas na região serrana. Foi lá que trouxe os filtros ao país pela primeira vez.

Agora, a nova visita de Rose teve um envolvimento diferente. O esporte mais uma vez teve papel de destaque. Assim como no surfe, o Rali dos Sertões também compete em áreas com precárias condições de saneamento básico, higiene e saúde. E foi por meio de amigos em comum que Rose soube da competição brasileira e de seu peculiar roteiro.

Contando com o apoio da equipe da Mitsubishi, Jon decidiu levar seu trabalho às comunidades carentes e às áreas rurais no trajeto de mais de 4 mil km do rali. A cada uma das dez etapas, o norte-americano distribui os baldes e filtros e ensina as pessoas a usá-los para transformar água contaminada de poços, riachos ou bicas em algo próprio para o consumo. A população tem aulas sobre preservação do meio-ambiente, cuidados com a higiene e com a saúde, além de aprender como manejar corretamente os equipamentos.

“Sim, está sendo algo bastante diferente e desafiador. Estamos encontrando condições muito ruins em alguns lugares, mas estou contente com o trabalho todo”, disse Jon, que acompanha a caravana, dorme nas barracas instaladas no parque de apoio. Acorda sempre muito cedo para o trabalho e volta só depois que o sol se põe.

Porém, o que mais o impressionou foi a rápida aceitação da população, a simpatia e o interesse. De acordo com o ex-atleta, “as pessoas se interessam muito e é fácil falar”.

“É tudo muito simples. O povo é muito simples, mas sabe o que quer. E o entendimento é fácil. Não há problemas, as pessoas entendem, sempre querem saber mais e mais. Então, está tudo sendo muito bom, produtivo”, afirmou.

Até o momento, quando o rali se aproxima de Palmas, capital do Tocantins, para a sexta etapa, a campanha de Rose já distribuiu 80 filtros ao longo de três cidades e mais de 700 km. Cada filtro tem capacidade para atender 100 pessoas por um prazo de cinco anos. Isso quer dizer que cerca de 8 mil pessoas serão beneficiadas neste processo.

Entre as ações mundiais, a ONG ajudou a população no Haiti, que ficou devastada após o terremoto de 2010. Também levou ajuda às vítimas do furacão Sandy, nos Estados Unidos, e passou por Serra Leoa, Nepal, Japão, Nicarágua e Coreia do Norte mais recentemente. Já foram distribuídos mais de cem mil filtros, ajudando mais de 10 milhões de pessoas ao redor do mundo.

A próxima parada de Rose é a África.

Como funciona

A técnica para a purificação da água é muito simples. É preciso um balde e o kit, que possui uma mangueira, o filtro, que é composto por uma membrana purificadora, e uma pequena ferramenta para fazer o furo no balde.

Kit é distribuído pela ONG Waves for Water (Foto: Evelyn Guimarães)

Kit é distribuído pela ONG Waves for Water (Foto: Evelyn Guimarães)

 

Uma ponta da mangueira vai instalada no balde e a outra no filtro. Quando a água está sendo despejada no balde, o filtro é colocado para cima. Quando encerra esse processo, o filtro é colocado para baixo e aí a água já sai potável pelo filtro.

O filtro ajuda no combate a doenças como tifo, malária, dengue, cólera e de diversos protozoários. O equipamento só não consegue ter 100% de eficácia em casos de água contaminada quimicamente.

Cada filtro para doação sai por US$ 50, ou algo em torno de R$ 110.

O site GRANDE PRÊMIO está acompanhando ‘in loco’ a 21ª edição do Rali dos Sertões com a repórter Evelyn Guimarães.

Confira mais informações no site GRANDE PRÊMIO.

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